Conversa interna com a sacerdotisa

O tempo, com suas flechas, é a síndrome anti-imortalidade.
O tempo é a síndrome anti-eternidade.
 
Dentro de mim, iluminado de púrpura, espreitei minha caverna.
Naquela nebulosa não encontrei nada que justificasse acordar tão longe de mim.
 
Na voz interna surgiu o manto e sutil fez da palavra meu encanto.
O motivo da lamúria eram as flechas do tempo, perfurando as partes moles do meu corpo.
 
Duas pra frente e duas pra trás,
desconcebi o medo e afastei do tempo a precisão do meu agora.
 
Olhei ao redor para sentir o momento.
Eis a raiz do meu sagrado movimento.
Verifiquei nas estrelas ocultas o profundo unguento.
Salientei em minh’alma a conexão com a imagem eterna da qual sou rebento.
 
Afastei o anti-eterno, comecei a escrever o que reverte o silêncio pra dentro.
 
Refletida, a sacerdotisa desfez seu manto e revelou um reflexo perdido.
A lua escondida atrás do sol gigante disse que imaginar pode ser libertar
e que pode ser também perder.
 
Mas com peito exposto, como faz para escolher?
Diante o reino que é só meu e de repente é nosso.
Foi ai que ocultei-me e fiz eclipse abraçando a lua.
 
Sim, eu disse que foi medo mas era outra coisa.
Sim, quando a nuvem entra na frente do sol.
Ela refresca o dia e assumimos a postura da lentidão.
 
Esperando viver um pouco desse frescor que é permitir deixar partir.
Luz que é demais cega e faz esquecer da noite.
 
É mesmo dessa sensação que a vida esfarela nos mimos do gira-gira.
Eu devo lembrar que sou embaixador da minha própria profundeza.
Carregando nos lábios as curvas da beleza.
 
Não serei acabrunhado na espera de um futuro minguante.
Da estrela também sou amém na curva do arco ancestral.
Obrigado, eu disse, estrela.
Ela olhou pra mim mais uma vez, um portal que já esmaecia, e disse:
“Se a mente expande repentina, tudo o que há de ser começa a proliferar no manifesto.”
 
 
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Um comentário em “Conversa interna com a sacerdotisa

  1. Assista “too old to die young”. Cada episódio da mini-serie é remetida á uma carta. A sarcedotisa é uma personagem fundamental.

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